quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Rimas com Frutos


Somos os heróis da fruta

Somos todos muitos amigos

Se queres entrar nesta luta

Come fruta de segunda a domingo

 

A Ana gosta da banana

O João gosta do melão

Gostamos de todas as frutas

Porque animam o coração

 

Fruta pequena, fruta grande

Fruta de todas as cores

Delícias de todas as maneiras

Frutas de todos os sabores

 

Comer pêra, maçãs e bananas

Vai ser sempre a nossa luta

Para ficarmos muito fortes  

Pois somos os heróis da fruta

 

Vamos todos comer fruta

É o que queremos dizer

Porque temos a certeza

Que a fruta ajuda a crescer
 
Trabalho coletivo

Feliz Aniversário!!!

Rui Veloso - Porto Côvo

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Feliz Aniversário!

Feira do Livro e encontro com o ilustrador Bruno Balegas

No dia 19 de fevereiro fomos à  Feira do Livro, que se realizou na Escola Sebastião da Gama, em Estremoz. Comprámos alguns livros e estivemos com o ilustrador Bruno Balegas, o ilustrador do livro "O Ecofeitiço e Outras Histórias", de Palmira Martins.
O ilustrador mostrou-nos algum do equipamento que utiliza para fazer os seus desenhos (computador, mesa digital, caneta digital e software específico), fez alguns desenhos e apresentou o livro atrás mencionado.



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Pelo sonho é que vamos


Pelo sonho é que vamos onde queremos. Alegres e felizes perante o sol radiante e esplendoroso.
O sonho é como o sol que se esconde, mas nunca pára de brilhar.
Sonhamos em acabar com a fome, a guerra e a tristeza.
Sonhamos com um mundo melhor e mais justo, onde todos tenham um emprego decente e onde todos os sonhos se poderão concretizar.
Os sonhos mágicos das crianças vão subindo para os astros como um grito puro.

“Pelo sonho é que vamos” – Poema “Pelo sonho é que vamos”, de Sebastião da Gama

“Subindo para os astros como um grito puro.” – Poema “ Mar”, de Sophia de Mello Breyner Andresen

Texto coletivo – EB de Veiros

Serão Cultural na BE

O António respondeu ao desafio: "Faça lá um poema!" e no dia 21 de fevereiro esteve na BE a ler o seu poema. No final todos os participantes receberam um prémio de participação - um livro.

Pai e Mãe

Meu pai e minha mãe
Vocês nunca me desiludiram,
Sempre me fizeram rir
E nunca me mentiram.

Sempre me acompanharam
Sempre me ajudaram,
Sei que sempre me amaram
E muitas coisas me ensinaram.

Eu adoro-vos
Do fundo do meu coração
Sei que sou muito brincalhão
Por isso devo-vos muita gratidão.

Às vezes fico aborrecido
Vocês conseguem-me animar,
Olho para um e para outro
E começo a falar.

São os melhores pais do mundo
Sempre os amarei!

António, EB Veiros, 4º ano




Projeto Conectando Mundos - Os Justiceiros da Fome

Os justiceiros da fome descobriram que:

- Há muitas pessoas com fome, em Portugal e no resto do mundo.
- Há agricultores que cultivam alimentos e que passam fome.
- A fome é uma criação humana.

Como podemos acabar com a fome?

Podemos:


- Distribuir as sobras dos restaurantes por instituições de solidariedade e assim matar a fome às famílias carenciadas.

- Contribuir com a doação de alimentos no Banco Alimentar.

- Participar na campanha “Papel por Alimentos”, promovida pelo Banco Alimentar, onde o papel angariado é convertido em alimentos.

- Fazer uma alimentação vegetariana. (Os vegetais são capazes de produzir o seu próprio alimento e são capazes de fornecer tudo o que o organismo humano precisa: proteínas, hidratos de carbono, lípidos, vitaminas e sais minerais).  Deste modo pouparíamos dinheiro e teríamos uma alimentação saudável.

- Promover uma educação para ensinar as pessoas a não deixar comida no prato e a não deixar passar o prazo de validade dos produtos.

- Repartir os alimentos que temos com os nossos amigos e familiares mais carenciados.

- Sugerir aos nossos políticos que criem empregos para todos (homens, mulheres, jovens).

Eu posso
Tu podes
Ele pode
Nós podemos acabar com a fome!

Trabalho coletivo – EB Veiros – Projeto Conectando Mundos

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O príncipe feliz, de Oscar Wilde


O Príncipe Feliz
Lá no cimo da cidade, numa coluna muito alta, estava a estátua do Príncipe Feliz. Estava coberto com finas folhas de ouro maciço, tinha duas brilhantes safiras como olhos e um enorme rubi vermelho brilhava no cabo da sua espada. Era realmente muito admirado.
— Ele é tão bonito como um catavento — comentou um dos Conselheiros da Cidade, que queria ganhar reputação por ter gostos artísticos. — Só que não é tão útil — acrescentou, temendo que pensassem que ele não era uma pessoa prática, e realmente não era.
— Porque é que tu não és como o Príncipe Feliz? — perguntou uma mãe sensível ao seu filhinho que estava a chorar pela lua. — O Príncipe Feliz nem sequer sonha em chorar por alguma coisa.
— Fico contente por saber que há alguém no mundo que é muito feliz — murmurou um homem desapontado, enquanto admirava a maravilhosa estátua.
— Ele parece mesmo um anjo! — disseram as crianças do asilo ao saírem da catedral, nas suas capas vermelho-escarlate e nos seus bibes muito brancos.
— Como é que sabem? — perguntou o Professor de Matemática. — Vocês nunca viram um anjo.
— Ah! já vimos, nos nossos sonhos — responderam as crianças. O Professor de Matemática franziu as sobrancelhas e olhou-as severamente, pois não aprovava sonhos de crianças.
Uma noite, voou sobre a cidade uma pequena Andorinha. As suas companheiras tinham voado para longe, para o Egipto, seis semanas antes, mas ela tinha ficado para trás, pois estava apaixonada por uma linda Cana. Tinham-se conhecido no início da Primavera, quando a Andorinha voava rio abaixo, atrás de uma mariposa amarela e sentiu-se tão atraída pela cintura estreita da Cana, que parou para falar com ela.
— Posso amar-te? — disse a Andorinha que gostava de ir directa ao assunto, e a Cana fez-lhe uma vénia. E assim, ela voou à sua volta, tocando a água com as asas e fazendo ondulações prateadas. Esta era a sua forma de fazer a corte e durou todo o Verão.
— É uma ligação ridícula — riam-se, trocistas, as outras Andorinhas. — Ela não tem dinheiro e conhece gente a mais.
E realmente o rio estava cheio de juncos. Depois veio o Outono e elas voaram para longe. Depois de elas partirem, a Andorinha sentiu-se sozinha, e começou a cansar-se da sua amada. «Ela não sabe conversar», disse a Andorinha, «e acho que é muito namoradeira, pois está sempre a namoriscar com o vento.» Realmente, quando o vento soprava, a Cana fazia os mais graciosos movimentos. «Aceito que ela seja caseira», continuou, «mas eu gosto de viajar, e a minha mulher também terá de gostar.»
— Vens comigo para longe daqui? — perguntou um dia à Cana; mas a Cana abanou a cabeça, pois estava muito ligada à sua casa.
— Tu tens estado a brincar comigo — gritou ela. — Eu vou-‑me embora para as Pirâmides. Adeus!
E foi-se embora. Voou durante todo o dia e à noite chegou a uma cidade. «Onde é que eu vou hospedar-me?» disse ela. «Espero que a cidade tenha feito os preparativos necessários.» Depois, viu a estátua ao alto da enorme coluna. «Vou hospedar-me ali», gritou ela. «É um óptimo lugar, com muito ar fresco.»
E, assim, pousou entre os pés do Príncipe Feliz.
«Tenho um quarto de ouro», disse ela para consigo, enquanto olhava em volta e se preparava para dormir; mas, quando estava a pôr a cabeça debaixo da asa, uma enorme gota de água caiu-lhe em cima. «Que coisa curiosa!» gritou ela. «Não há uma só nuvem no céu, as estrelas estão muito claras e brilhantes e, no entanto, está a chover. O clima do norte da Europa é realmente horrível.»
E então caiu outra gota. «Para que serve uma estátua se não consegue abrigar-me da chuva?» disse ela. «Tenho de procurar uma boa chaminé». E decidiu ir embora.
Mas ainda não tinha aberto as asas quando uma terceira gota caiu e ela olhou para cima e viu — Ah! O que é que ela viu? Os olhos do Príncipe Feliz estavam cheios de lágrimas e as lágrimas caíam pelas suas faces douradas. A sua cara era tão linda à luz da lua, que a pequena Andorinha ficou cheia de pena.
— Quem és tu? — disse ela.
— Eu sou o Príncipe Feliz.
— Mas então porque estás a chorar? — perguntou a Andorinha — Molhaste-me toda.
— Quando eu era vivo e tinha um coração humano — respondeu a estátua — não sabia o que eram lágrimas, pois vivia no Palácio Sem-Cuidados, onde não é permitida a entrada da tristeza. De dia eu brincava com os meus amigos no jardim, e à noite abria o baile no salão. À volta do jardim havia um muro muito alto, mas eu nunca me preocupei em perguntar o que estava do outro lado, pois tudo à minha volta era muito bonito. Os meus cortesãos chamavam-me o Príncipe Feliz e, realmente, se o prazer é felicidade, eu era feliz. E assim vivi, e assim morri. E agora que estou morto, eles puseram-me aqui em cima, tão alto que consigo ver todas as coisas feias e toda a miséria da minha cidade, e apesar do meu coração ser feito de chumbo, não consigo deixar de chorar.
«Então não é feito de ouro maciço?» disse a Andorinha para consigo. Ela era muito educada para fazer comentários pessoais em voz alta.
— Lá longe — continuou a estátua em voz baixa e melodiosa, — lá, longe, numa rua pequena, há uma casa pobre. Uma das janelas está aberta e através dela eu posso ver uma mulher sentada à mesa. Ela tem um rosto magro e fatigado, e tem as mãos rudes e vermelhas, todas picadas da agulha, pois é costureira. Ela está a bordar flores da paixão num vestido de cetim para a mais bela das damas de honor da Rainha vestir no próximo baile da Corte. Numa cama, ao canto do quarto, o seu filhinho está deitado, doente. Ele tem febre e está a pedir laranjas. A mãe não tem nada para lhe dar, a não ser água do rio e, por isso, ele está a chorar. Andorinha, Andorinha, pequena Andorinha, levas-lhe, por favor, o rubi do cabo da minha espada? Os meus pés estão presos a este pedestal e eu não posso mexer-me.
— Estão à minha espera no Egipto — disse a Andorinha. — Os meus amigos sobem e descem o Nilo e falam com as enormes flores de lótus. Daqui a pouco irão dormir no túmulo do Grande Rei. O Rei está lá, no seu caixão pintado. Está envolto em linho amarelo e embalsamado com especiarias. À volta do seu pescoço está uma corrente de pálido jade verde, e as suas mãos são como folhas secas.
— Andorinha, Andorinha, pequena Andorinha — disse o Príncipe, — não queres ficar comigo por uma noite e ser a minha mensageira? O menino tem tanta sede e a mãe está tão triste!
— Eu acho que não gosto de meninos — respondeu a Andorinha. — No Verão passado, quando eu estava ao pé do rio, apareceram dois meninos mal-educados, os filhos do moleiro, e passaram a vida a atirar-me pedras. É claro que nunca me acertaram. Nós, as andorinhas, voamos muito bem para permitir que isso aconteça e, além disso, eu pertenço a uma família famosa pela sua agilidade; mesmo assim, foi um sinal de desrespeito.
Mas o Príncipe Feliz estava tão triste que a Andorinha teve pena dele.
— Aqui está muito frio — disse ela — mas eu vou ficar contigo por uma noite, e ser a tua mensageira.
— Obrigado, pequena Andorinha — disse o Príncipe.
E assim, a Andorinha tirou o enorme rubi da espada do Príncipe e voou com ele no bico por cima dos telhados da cidade. Passou pela torre da catedral, onde estavam esculpidos anjos de mármore branco. Passou pelo palácio e ouviu o som do baile. Uma bonita rapariga veio à varanda com o seu amado.
— Como são bonitas as estrelas — disse-lhe ele — e que bonito é o poder do amor!
— Eu espero que o meu vestido esteja pronto para o baile da Corte — respondeu ela.— Mandei bordar flores da paixão, mas as costureiras são tão preguiçosas!
Passou pelo rio e viu as lanternas penduradas nos mastros dos navios. Finalmente, chegou à casa pobre e espreitou. O menino tossia febril na sua cama e a mãe tinha adormecido, pois estava muito cansada. Saltou lá para dentro e pousou o enorme rubi na mesa, ao lado do dedal da mulher. Depois, voou devagar à volta da cama, provocando uma certa aragem com as asas, para refrescar a fronte do menino.
— Que fresquinho — disse o menino. — Devo estar a melhorar.
E caiu num sono delicioso. Depois, a Andorinha voou de volta para o Príncipe Feliz e contou-lhe o que tinha feito.
— É curioso — notou ela. — Sinto-me tão bem, agora, apesar de estar tanto frio!
— Isso é porque fizeste uma boa acção — disse o Príncipe. E a pequena Andorinha começou a pensar e depois adormeceu.
Quando o dia amanheceu, ela voou até ao rio e tomou um banho. «Que fenómeno espantoso», disse o Professor de Ornitologia, quando passou pela ponte. «Uma andorinha no Inverno!» E escreveu uma longa carta sobre isso para o jornal local. Toda a gente falou nele, pois estava tão cheio de palavras estranhas que ninguém percebeu nada.
— Esta noite vou para o Egipto — disse a Andorinha, e ficou satisfeita com tal ideia. Visitou todos os monumentos públicos e pousou, algum tempo, no topo da torre da igreja. Onde quer que ela fosse, os Pardais chilreavam e diziam uns aos outros: «Que estrangeiro tão distinto!» E por isso a Andorinha estava muito satisfeita consigo própria.
Quando a lua apareceu, ela voou para o Príncipe Feliz.
— Tens alguma mensagem para o Egipto? — gritou ela. — Eu vou agora mesmo.
— Andorinha, Andorinha, pequena Andorinha — disse o Príncipe — não queres ficar comigo só mais uma noite?
— Estão à minha espera no Egipto — respondeu a Andorinha. — Amanhã os meus amigos voarão para a Segunda Catarata. Os hipopótamos escondem-se entre os juncos e o Deus Memnon está sentado num magnífico trono de granito. Ele observa as estrelas durante a noite e quando a estrela da manhã brilha, solta um grito de alegria e depois fica silencioso. Ao meio-dia, os leões amarelos descem até à beira da água para beberem. Eles têm olhos como o berilo verde e o seu rugir é mais alto do que o rugir da Catarata.
— Andorinha, pequena Andorinha — disse o Príncipe. — Lá longe, do outro lado da cidade, eu vejo um jovem num sótão. Ele está inclinado sobre uma secretária coberta de papéis e, a seu lado, num copo, está um ramo de violetas mortas. O seu cabelo é castanho e encaracolado, os seus lábios são vermelhos como uma romã, e ele tem olhos grandes e sonhadores. Está a tentar acabar uma peça para o Director do Teatro, mas sente muito frio e não consegue escrever mais. Não há chama na lareira e a fome deixou-o enfraquecido.
— Eu ficarei contigo só mais esta noite, disse a Andorinha, que no fundo tinha bom coração. — Levo-lhe outro rubi?
— Ai! Eu não tenho mais rubis — disse o Príncipe. — Só tenho os meus olhos. São safiras raras, trazidas da Índia há cem anos. Tira uma delas e leva-a. Ele vendê-la-á ao joalheiro e comprará comida e lenha para a lareira, e acabará a peça.
— Querido Príncipe — disse a Andorinha — eu não posso fazer isso.
E começou a chorar.
— Andorinha, Andorinha, pequena Andorinha — disse o Príncipe — faz o que eu te digo.
Então a Andorinha tirou um dos olhos do Príncipe e voou até ao sótão do estudante. Era muito fácil entrar, pois tinha um buraco no telhado. Passou através dele e entrou no quarto. O jovem tinha a cabeça enterrada nas mãos e por isso não ouviu o esvoaçar das asas do pássaro, e quando olhou para cima encontrou a linda safira nas violetas mortas.
— Começam a dar-me valor — gritou ele. — Isto é de algum grande admirador. Agora posso acabar a minha peça.
E ficou muito feliz. No dia seguinte, a Andorinha voou até ao porto. Sentou-se num mastro de um navio enorme e observou os marinheiros puxando grandes caixas com cordas, do porão.
— Puxem para cima! — gritavam uns para os outros quando as caixas subiam.
— Eu vou para o Egipto! — gritou a Andorinha, mas ninguém lhe prestou atenção e, quando a lua apareceu, voou de volta para o Príncipe Feliz.
— Vim para te dizer adeus — disse ela.
— Andorinha, Andorinha, pequena Andorinha — disse o Príncipe. — Não queres ficar comigo só mais uma noite?
— É Inverno — respondeu a Andorinha — e a neve fria não tarda a chegar. No Egipto, o Sol é quente nas palmeiras verdes e os crocodilos ficam na lama a olhar preguiçosamente à sua volta. Os meus companheiros constroem os ninhos no Templo da Baalbec, e os pombos cor-de-rosa e brancos observam-nos e arrulham uns para os outros. Querido Príncipe, eu tenho de te deixar, mas nunca te esquecerei, e na próxima Primavera trago-te duas lindas jóias para o lugar daquelas que tu deste. O rubi será mais vermelho do que uma rosa vermelha, e a safira mais azul do que o magnífico mar.
— Na praça, lá em baixo — disse o Príncipe Feliz — está uma rapariguinha que vende fósforos. Ela deixou-os cair na sarjeta e estão todos estragados. O pai dela vai bater-lhe se ela não levar dinheiro para casa e ela está a chorar. Não tem sapatos nem meias, e a sua cabecita não tem nenhum agasalho. Tira o meu outro olho e vai dar-‑lho e, assim, o pai já não lhe baterá.
— Eu ficarei contigo só mais esta noite — disse a Andorinha — mas não posso tirar-te o teu olho. Assim, ficarás cego.
— Andorinha, Andorinha, pequena Andorinha — disse o Príncipe — faz o que eu te digo.
E assim, ela tirou o outro olho do Príncipe e partiu com ele. Desceu rapidamente e passou pela menina dos fósforos e deixou a jóia na palma da sua mão.
— Que lindo bocadinho de vidro! — gritou a menina; e correu para casa, rindo.
Depois, a Andorinha voltou para o Príncipe.
— Agora tu estás cego — disse ela — por isso ficarei contigo para sempre.
— Não, pequena Andorinha — disse o pobre Príncipe. — Tu tens de ir para o Egipto.
— Eu ficarei contigo para sempre — disse a Andorinha, e dormiu aos pés do Príncipe.
No dia seguinte, sentou-se no ombro do Príncipe todo o dia lhe contou histórias do que tinha visto em terras distantes.
— Querida pequena Andorinha — disse o Príncipe — tu falas-‑me de coisas de espantar, mas mais espantoso é o sofrimento dos homens e das mulheres. Não há Mistério maior do que a Miséria. Pequena Andorinha, voa pela minha cidade e conta-me o que vês.
E, assim, a Andorinha voou pela grande cidade e viu os ricos a divertirem-se nas suas lindas casas, enquanto os pedintes estavam sentados aos portões. Voou por becos e viu as caras pálidas das crianças que, cheias de fome, olhavam com indiferença para as ruas negras. Debaixo de um arco de ponte, estavam dois rapazinhos deitados, um nos braços do outro, a tentarem manter-se quentes.
— Que fome que nós temos! — disseram eles.
— Vocês não podem ficar aqui — berrou o Guarda Nocturno, e lá foram eles para a chuva.
Então, a Andorinha voou de volta e contou ao Príncipe o que tinha visto.
— Eu estou coberto de ouro maciço — disse o Príncipe. — Tira-o, folha a folha, e dá-o aos meus pobres; os vivos acham que o ouro os faz sempre felizes.
A Andorinha tirou o lindo ouro, folha a folha, até o Príncipe Feliz ficar cinzento e sem graça. Folha a folha, ela levou o ouro aos pobres, e as faces das crianças tornaram-se mais rosadas, e elas riam e brincavam nas ruas.
— Agora temos pão! — gritavam elas.
Então a neve chegou e depois o gelo. As ruas tão claras e brilhantes pareciam feitas de prata; longos pingentes de gelo, que mais pareciam espadas de cristal, pendiam dos beirais das casas; toda a gente vestia casacos de peles e os rapazinhos vestiam capas escarlates e deslizavam no gelo.
A pobre Andorinha foi ficando cada vez com mais frio, mas não abandonou o Príncipe, pois gostava muito dele. Apanhava migalhas à porta do padeiro, quando este não via, e tentava manter-se quente, batendo as asas. Mas, por fim, percebeu que ia morrer. Só tinha forças para voar para o ombro do Príncipe, mais uma vez.
— Adeus, querido Príncipe! — murmurou ela. — Deixas-me beijar a tua mão?
— Fico contente por ires, finalmente, para o Egipto, pequena Andorinha — disse o Príncipe. — Já ficaste aqui muito tempo; mas tu deves beijar-me nos lábios, pois eu gosto muito de ti.
— Não é para o Egipto que eu vou — disse a Andorinha. — Eu vou para a Casa da Morte. A Morte é a irmã do Sono, não é?
E beijou o Príncipe nos lábios e caiu morta aos seus pés. Nesse momento, ouviu-se um barulho estranho, como se alguma coisa se tivesse partido dentro da estátua. A verdade é que o coração de chumbo tinha-se partido em dois. Estava um frio terrível.
Na manhã seguinte, bem cedo, o Prefeito andava a passear na Praça, na companhia dos Conselheiros da Cidade. Quando passavam pela coluna, ele olhou para a estátua.
— Meu Deus! Que maltrapilho está o Príncipe Feliz! — disse ele.
— Realmente! — gritaram os Conselheiros, que concordavam sempre com o Prefeito, e foram para cima observar bem a estátua.
— O rubi caiu da espada, os olhos desapareceram e ele já não é dourado — disse o Prefeito. — Na verdade, parece um mendigo!
— Parece um mendigo — disseram os Conselheiros. — E até tem um pássaro morto aos pés! — continuou o Prefeito. — Temos de fazer um decreto para proibir os pássaros de morrer aqui.
O secretário tomou nota da sugestão. E assim, deitaram abaixo a estátua do Príncipe Feliz.
— Como deixou de ser bonito, já não tem utilidade — disse o Professor de Arte da Universidade.
Depois, derreteram a estátua num forno, e o Prefeito convocou uma reunião com a Corporação para decidir o que fazer com o metal.
— É claro que temos de ter outra estátua — disse — e será uma estátua minha.
— Minha — disseram cada um dos Conselheiros da Cidade, e começaram a discutir. A última vez que eu ouvi falar deles, ainda estavam a discutir.
— Que coisa estranha! — disse o capataz dos trabalhadores da fundição. — Este coração de chumbo, partido, não derrete no forno. Vamos deitá-lo fora.
E, por isso, deitaram-no num monte de lixo onde já estava a Andorinha morta.
— Traz-me as duas coisas mais preciosas da cidade — disse Deus a um dos seus Anjos; e o Anjo levou-lhe o coração de chumbo e o pássaro morto.
— Escolheste bem — disse Deus — pois no meu jardim do Paraíso, este pássaro cantará para sempre, e na minha cidade de ouro o Príncipe Feliz far-me-á companhia.
Oscar Wilde

O gigante egoísta, de Oscar wilde


O Gigante Egoísta

Todas as tardes, quando vinham da escola, as crianças iam brincar para o jardim do Gigante. Era um jardim grande magnífico, coberto de relva macia e verde. Aqui e ali despontavam flores lindas como estrelas e havia doze pessegueiros que, com a chegada da Primavera, floresciam em tons de cor-de-rosa e pérola e, no Outono, ficavam carregados de esplêndidos frutos. As aves pousavam nas árvores e cantavam tão suavemente que as crianças interrompiam os seus jogos para as ouvir.
- Que bem que se está aqui! -diziam umas às outras.
Um dia, o Gigante regressou. Tinha ido visitar o seu amigo, o Ogre [1] da Cornualha, e demorara-se por lá sete anos. Ao fim de sete anos, tinha dito tudo o que havia para dizer, porque a sua conversa era limitada, e decidiu voltar ao castelo. Quando chegou, viu as crianças a brincar no jardim.
- Que fazeis aqui? -gritou ele, com voz severa.
E as crianças fugiram.
-Este jardim é muito meu – sentenciou[2] o Gigante.
-Que todos o fiquem sabendo. Não consinto que ninguém venha para aqui divertir-se a não ser eu próprio.
Ergueu então um muro muito alto a toda a volta do jardim e afixou nele o seguinte aviso:
É proibida a entrada Os transgressores serão castigados.
Era muito egoísta este Gigante. Agora as pobres crianças não tinham onde brincar. Tentaram brincar na estrada, mas havia muita poeira e pedras grossas, o que não lhes agradou. Depois das aulas, vagueavam à roda do muro, conversando sobre o belo jardim que existia do outro lado.
- Como éramos felizes lá dentro! -comentavam entre si.
Chegou então a Primavera e por todo o lado havia flores e chilreavam avezinhas. Só no jardim do Gigante continuava o Inverno. As aves não lhes apetecia ir lá cantar porque não havia crianças e as árvores esqueceram-se de florir. Um dia, uma linda flor ergueu a cabeça acima da relva, mas, quando viu o aviso, teve tanta pena das crianças que se sumiu de novo na terra e adormeceu. Os únicos seres satisfeitos eram a Neve e a Geada.
- A Primavera esqueceu-se deste jardim! -exclamavam elas. - Por isso, podemos ficar aqui todo o ano.
A Neve cobriu a relva com o seu imenso manto branco e a Geada pintou de prata todas as árvores. Convidaram depois para viver com elas o Vento Norte que aceitou o convite. Estava envolto em peles e rugia todo o dia pelo jardim, derrubando as chaminés.
- Que lugar admirável! -disse ele. -Temos de convidar também o Granizo.
E, assim, veio o Granizo. Diariamente, durante três horas, rufava[3] nos telhados até partir a maior parte das ardósias[4] e corria, depois, pelo jardim, o mais depressa que lhe era possível. Vestia de cinzento e tinha um hálito frio como gelo.
- Não percebo porque é que a Primavera tarda tanto -pensava o Gigante Egoísta sentado à janela a olhar para o seu jardim branco de neve.
-Espero que o tempo melhore.
Mas a Primavera nunca veio e nunca veio o Verão. Com o Outono, chegavam frutos maduros a todos os jardins, menos ao do Gigante.
- O Outono é muito egoísta, -considerava o Gigante, enquanto o Inverno reinava no seu jardim e o Vento Norte, a Geada, o Granizo e a Neve dançavam por entre as árvores.
Uma bela manhã, estava o Gigante ainda deitado, mas já desperto, quando ouviu uma música encantadora. Soava tão docemente aos seus ouvidos que supôs serem os músicos do rei que passavam. Na realidade, era apenas um pintarroxo que lhe cantava à janela; mas havia já tanto tempo que não ouvia o canto dos pássaros no seu jardim que aquilo lhe pareceu a música mais bela do mundo. Então o Granizo deixou de rufar-lhe nos telhados, o Vento Norte deixou de rugir e chegou-lhe, pela janela aberta, um perfume delicioso.
- Parece que a Primavera chegou, finalmente! -exclamou o Gigante, saltando da cama e olhando para o jardim. E que viu ele? Viu um espectáculo deslumbrante. Por um buraco pequeno no muro, as crianças tinham passado para o jardim e estavam empoleiradas nos ramos das árvores. Havia uma criança em cada árvore. E as árvores ficaram tão contentes com o regresso da pequenada que de novo se cobriram de flores e agitavam suavemente os ramos sobre as suas cabecitas. As aves esvoaçavam e chilreavam alegremente, as flores, por entre a relva, espreitavam e riam. Era um espectáculo encantador e só num recanto do jardim permanecia ainda o Inverno. Ali estava um miúdo tão pequeno que não conseguia trepar à árvore e andava de um lado para o outro, chorando amargamente. A pobre árvore continuava cheia de neve e geada; por cima dela ainda soprava e rugia o Vento Norte.
- Sobe, meu menino -disse a árvore, inclinando os ramos o mais que podia, mas a criança era pequenina demais. O coração do Gigante enterneceu-se, ao olhar lá para fora.
-Tenho sido tão egoísta! -reconheceu ele. - Agora percebo a razão por que a Primavera não aparecia. Vou pôr o rapazinho em cima da árvore e depois vou derrubar o muro. O meu jardim será, para sempre o lugar de recreio das crianças.
Estava realmente arrependido do que tinha feito. Desceu então a escada, abriu a porta devagarinho e chegou ao jardim. Mas as crianças, ao vê-lo, fugiram aterradas, e o Inverno voltou ao jardim. Só o rapazinho não fugiu, porque tinha os olhos cheios de lágrimas e não se apercebeu da chegada do Gigante. O Gigante, aproximando-se cautelosamente, pegou-lhe com todo o carinho e pô-lo em cima da árvore. Logo a árvore se encheu de flores, vieram pássaros cantar e o rapazinho, estendendo os braços para o Gigante, abraçou-o e beijou-o. As outras crianças, quando viram que o Gigante já não era mau, voltaram a correr; e com elas voltou a Primavera.
- Agora, este jardim é vosso, meus meninos! -declarou o Gigante.
Pegou então numa picareta enorme e derrubou o muro. E, ao meio-dia, as pessoas que iam para o mercado viram o Gigante a brincar com as crianças no mais belo jardim que jamais tinham contemplado. Brincaram todo o santo dia e, quando a noite chegou, foram despedir-se do Gigante.
- Onde está o vosso companheiro? -perguntou ele. -Aquele que eu pus em cima da árvore. O Gigante gostava muito dele porque o tinha beijado.
- Não sabemos nada dele -responderam as crianças. -Foi-se, embora.
- Se o virem, digam-lhe que não falte amanhã. As crianças responderam que não sabiam onde ele morava e que antes nunca o tinham visto; e o Gigante ficou muito triste.
Todas as tardes, ao saírem da escola, as crianças vinham brincar com o Gigante. Mas o rapazinho de quem o Gigante mais gostava não voltou a ser visto. O Gigante era muito bondoso para todas as crianças, mas suspirava pelo seu primeiro amiguinho e falava dele muitas vezes. Gostava tanto de o tornar a ver! -repetia ele. Passaram os anos e o Gigante envelheceu e enfraqueceu muito. Como já não podia brincar, sentava-se numa poltrona enorme a ver brincar as crianças e a admirar o seu jardim.
- Tenho muitas flores bonitas -dizia - , mas as crianças são as mais bonitas de todas.
Certa manhã de Inverno, enquanto se vestia, olhou pela janela. Agora já não odiava o Inverno porque sabia que era apenas a Primavera adormecida e que as flores repousavam. De repente, esfregou os olhos de espanto, olhou e tornou a olhar. Era, sem dúvida, um espectáculo maravilhoso. No recanto mais afastado do jardim, estava uma árvore completamente revestida de flores alvacentas[5]. Eram áureos os ramos e argênteos[6] os frutos que dela pendiam. E debaixo da árvore estava o rapazinho de quem ele tanto gostava. Cheio de alegria, o Gigante desceu apressadamente a escada para chegar ao jardim. Atravessou rapidamente a relva e aproximou-se do pequenino; mas, ao vê-lo, ficou vermelho de cólera.
- Quem se atreveu a magoar-te? -perguntou, vendo feridas de pregos nas palmas das mãos e nos pés do pequenito.
- Quem se atreveu a magoar-te? -gritou o Gigante. -Diz-me sem demora e vou já matá-lo com a minha espada.
- Não -respondeu a criança -, estas são as feridas do Amor.
- Então quem és tu? -quis saber o Gigante, sentindo-se invadido por um estranho sentimento e ajoelhando-se diante da criança.
Esta sorriu e respondeu:
- Um dia, deixaste-me brincar no teu jardim. Hoje, virás comigo para o meu, que é o Paraíso. E, nessa tarde, quando as crianças correram para o jardim, encontraram o Gigante morto, debaixo da árvore, e todo coberto de flores alvacentas.

Oscar Wilde